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Dupla jornada: maternidade e trabalho

A volta ao trabalho é um momento de crise e ambivalência, por significar uma experiência de separação...

Por Texto de: Dr. Leonardo Posternak - pediatra - em 26/04/2023 às 13:11:18

Foto de ilustração

Hoje, se observa mundialmente, o fenômeno da mulher que trabalha, não só como afirmação da liberação feminina e sim como uma premente obrigação satisfazer as necessidades básicas da família.

A volta ao trabalho é um momento de crise e ambivalência, por significar uma experiência de separação. Estas, sempre fazem parte da vida da gente e provocam maior ou menor sofrimento proporcional a própria vivência e também a maneira pessoal de como aprendemos a lidar com ela. As crianças pequenas não têm noção do tempo e não conseguem avaliar o motivo pelo qual alguém "falta". Os bebês acham que aquilo que não está frente aos seus olhos, deixou de existir, por isso sofrem a separação, como um abandono, ficando inseguros e amedrontados. Se faz indispensável, então, preparar as crianças, desde cedo para entender, aceitar e "sobreviver" a experiência de separação. Paradoxalmente, a primeira coisa a fazer, é cuidá-los muito, oferecendo lhes segurança e confiança no período de recém-nascido, muito contato corporal, olhares, colo, palavras, etc. se utilizam para criar um clima aconchegante. A autoconfiança da criança surge da confiança que ela tenha de seus pais, e também deles lhe propiciar, vivências de afastamento e reencontro, como são as brincadeiras de esconder e mostrar intermitentemente o rosto com uma fralda (cadê, achou !!). A repetição, excita, diverte e ensina. Os pais têm diariamente oportunidades de ensinar o bebê a lidar com a experiência de afastamento e de aceitar a demora para eles "reaparecer" é importante não sair correndo com desespero cada vez que o filhinho chora, pegá-lo no colo e tentar acalmá-lo de qualquer jeito, como se algo muito perigoso estivesse acontecendo com ele... Criança não ficará traumatizada, se entre o choro e o auxílio dos pais existe um tempo em que não se faz nada.

Lembrem que as crianças aprendem com os pais, e se cada vez que o deixamos sozinho no berço, ele chora, e com a "velocidade da luz", um rosto angustiado aparece, e com voz trêmula e emocionada lhe transmite medo e insegurança, o resultado é que a criança não está sendo preparada para enfrentar futuras separações. O adequado seria chegar lhe dizer calma e docemente, que está tudo bem, que mamãe e papai sempre vão estar por perto, tomando conta dele e que nunca o abandonarão.

Quando se volta para casa é bom dar atenção imediata e total ao bebê por alguns minutos, mostrando que também sentimos falta dele.

Tanto a mãe, quanto o filho precisam aprender a lidar com as separações. Nos primeiros três meses, de íntimo e cálido relacionamento, a mãe é o universo do filho e vice-versa.

A mãe acaba se sentindo dividida entre o desejo e/ou a necessidade de retornar às suas atividades e a dor e ansiedade provocadas pela separação com o filho. Deixá-lo aos cuidados de outra pessoa ou em um berçário, muitas vezes acrescenta sentimentos de ciúmes e competição com as pessoas que vão cuidar do seu " filhinho adorado" e que provavelmente vão lhe "roubar" o carinho dele. Ao mesmo tempo a mãe tem certeza de que nenhuma outra pessoa possa gostar e cuidar tanto e tão bem do filho quanto ela. O sentimento de ambivalência por ter que "entregar" o filho é próprio e normal deste momento evolutivo familiar.

É importante que os pais fiquem atentos a diversas manifestações das crianças, irritabilidade, falta de apetite, insônia, choro permanente, agressividade, etc. que poderiam estar mostrando possíveis inadequações entre ela e a pessoa ou instituição onde fica.

Embora, tenhamos todos os cuidados possíveis e imagináveis, a criança em geral acaba sentindo a mudança, enquanto se adapta aos novos tempos, fica distante e tristonha, como se "castigasse" a sua mãe, pelo abandono. Esta situação normal e transitória deixa a mãe surpresa e magoada por não suportar o filho distante e desinteressado por ela.

Tem crianças que tiram proveito da fraqueza da mãe, e se tornam mais exigentes, tentando uma super compensação. Os pais devem mostrar que gostam do filho, que também sentem sua falta, porém deve ficar claro que não a trataram com privilégios, já que fazer isso significa reconhecer que a separação é algo terrível e perigoso.

Nos episódios de separação, a mãe não deveria tentar que o filho não chore (sofra!) através de manobras inadequadas, como sair sem que a criança perceba (fugir!!) ou levá-la a passear, enquanto a mãe sai para trabalhar (traição!!) ou fazer promessas de presentes (chantagem !!).

Deixá-la chorar, alivia a criança, sendo um dos direitos que ela tem.

A mãe deve se despedir, falar que vai voltar e sair com decisão e firmeza, (o que não é nada fácil!!). Criar filhos é uma função onde se misturam afetos e conflitos.

Se a criança não é enganada nem chantageada, sabendo-se amada, se sentindo recompensada com a atenção da mãe, e não com presentes, acaba segura e confiante, deixando logo de chorar e fazer escândalos.

É reconfortante saber que o sentimento maternal, não se mede pelo tempo e sim pela qualidade com que a mulher aproveite o tempo disponível, se doando por inteiro e curtindo intensamente seu bebê.

A vida é feita de encontros e desencontros de coisas boas e de coisas ruins, e o filho deve ser educado para enfrentar a vida em todos os aspectos.

Fonte: A. Maradei

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